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EVELINE - JAMES JOYCE​​

 

A ARTE DAS PALAVRAS E A PRODUÇÃO DE SENTIDOS EPIFANICOS

 

Partindo do texto originalmente produzido por James Joyce e levando em consideração algumas das figuras de linguagem presentes no recorte abaixo, é possível enxergar a construção da epifania sendo feita.

 

“Her time was running out but she continued to sit by the window 1, leaning her head against the window curtain, inhaling the odour of dusty cretonne 2.”

 

1 Sinestesia, sensações humanas em relação aos cinco sentidos – visão;

2 Sinestesia – olfato.

O trecho 1 é uma repetição da primeira frase do conto com pequenas alterações e, assim como ambas as sinestesias, trabalham no texto com o intuito de fazê-la retornar a memórias antigas de Eveline. Através da visão do bairro e do cheiro do cretone empoeirado ela se transporta à lembranças antigas.

 

“Down far in the avenue she could hear a street organ playing 3.”

 

3 Sinestesia – Audição – Através do som do órgão ela volta no tempo, fazendo uso do fluxo de consciência.

 

“She knew the air 4. Strange that it should come that very night to remind her of the promise to her mother, her promise to keep the home together as long as she could.”

 

4 Sinestesia – Tato e olfato – Ambos os sentidos são usados para que ela reconheça o ar familiar.

 

“She remembered the last night of her mother's illness; she was again in the close dark room at the other side of the hall and outside she heard a melancholy air of Italy 5.
 

5 Sinestesia – Audição – Através do som do vento;

Personificação, dar a objetos inanimados características humanas – ar melancólico.

 

“The organ-player had been ordered to go away and given sixpence. She remembered her father strutting back into the sickroom saying:

“Damned Italians! Coming over here!”

 

“As she mused the pitiful vision of her mother's life laid its spell on the very quick of her being 6—that life of commonplace sacrifices closing in final craziness 7.”

 

6 Prosopopeia, atribuir a objetos inanimados ações humanas  - Dá a vida o poder de lançar um feitiço.

7 Final craziness – Loucura final, fruto do sacrifício de sua existência

 

“She trembled as she heard again 8 her mother's voice saying constantly with foolish insistence:

“Derevaun Seraun! Derevaun Seraun!” 9”

 

8 Sinestesia – Audição;

9 "At the end of pleasure, there is pain”. No fim do prazer, temos a dor.

 

”She stood up 10 in a sudden impulse of terror 11.”

 

10 Ação;

11 Choque trazido pelas lembranças.

 

“Escape 12! She must escape 12!”

 

12 Realização e decisão. Uso de pontos de exclamação para demonstrar seu pavor.

 

“Frank would save her. He would give her life 13, perhaps love, too. But she wanted to live. Why should she be unhappy 14? She had a right to happiness 14. Frank would take her in his arms, fold her in his arms 15. He would save her 16.”
 

13 Hipérbole, exagero da realidade;

14 Antítese, oposição de sentidos;

15 Epístrofe, repetição da mesma palavra no fim de frases sucessivas;

16 Hipérbole

O exagero das Hipérboles 13 e 16 parecem servir como exemplo do seu desespero, no item 13 faz-se entender que ela não se encontra mais viva e existindo e no item 16 que ela precisa ser salva. Ele utiliza a antítese e a epístrofe para reforçar a incerteza de Eveline, até mesmo numa aparente decisão tomada no momento em que se encontra.

As repetidas sinestesias encontradas desencadeiam as lembranças de Eveline, desde o começo do trecho recortado e analisado é possível perceber claramente o quanto as lembranças de Eveline a assombravam, atormentando de forma cruel seu fluxo de consciência. Durante todo o conto algumas dessas lembranças vinham à tona e no trecho em questão são essas lembranças que a fazem tomar a decisão de partir.

Nos trechos grifados em amarelo é possível comprovar como toda a epifania está em torno das lembranças de Eveline, o que influencia totalmente a sua decisão no desfecho da história.

Outro fato que influencia todo o desfecho é a incerteza, observado pelos itens grifados em verde, os verbos would e should, demonstram que na verdade tudo não passa de uma suposição, de um desejo de Eveline.

Autora: Amanda Maria de Oliveira Campos - Estudante de Letras - UNISANTOS

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